China – Uma gigante milenar
A China, um país de vasto território e enorme população que, se fosse cercada por oceanos, poderia ser confundida com um continente, começa agora a ser descoberta também por turistas brasileiros dispostos a apreciar uma cultura intrigante e milenar. Com uma nova postura econômica crescendo a passos largos, atualmente a China vem abrindo suas portas para o mundo após décadas fechadas para o ocidente. Esta nova visão inclui um excelente negócio chamado turismo, que ano a ano é incrementado por viajantes de todo o globo, e é claro, o Brasil está inserido neste contexto.
Entre fevereiro e março de 2011, eu e minha alma gêmea Lisette, grande companheira de aventuras, estávamos de malas prontas para excursionar pelo Egito. Seria uma viagem de descobertas, um velho sonho que cresceu quando criança com a história e estórias sobre múmias e faraós. Mas infortunadamente, uma insurreição contra o governo de Hosni Mubarak obrigou-nos a mudar de rota cinco dias antes da partida. Uma opção surgiu – China. Trocamos a milenar pirâmide de Queóps pela também milenar Grande Muralha.
Nas nossas andanças por vários países ao longo dos anos procuramos, antecipadamente a cada viagem, nos familiarizar com a cultura e os costumes locais. É importante ter uma visão prévia do que deveremos encontrar nas jornadas e inclusive não cometer algumas gafes comuns para os mais desavisados. Mas com esta súbita mudança de rota, mal tivemos tempo para estudar o mapa.
Nosso trajeto pela China iniciou em Beijing e terminou em Hong-Kong, percorrendo Xia’n, Shangai, Guilin, Guangzhou bem como algumas outras cidades menores e aldeias adjacentes. Por ser final de inverno por lá, não conseguimos incluir Lhasa no Tibet que fica a uma altitude aproximada de 3.500m. Com duas cidades entre as dez mais populosas do mundo (Shangai – 14 milhões e Beijing – 10 milhões de habitantes), nosso conceito de superpopulação foi superado ao extremo. Se o mundo fosse uma única rua, um em cada quatro de nossos vizinhos seria chinês.
Beijing, a capital desta nação, séculos antes de Cristo era a antiga capital do estado de Yan. Abriga a imperdível Cidade Proibida, o Palácio de Verão, o Templo Céu e é um dos acessos à Grande Muralha da China. Construções modernas foram executadas para os Jogos Olímpicos de 2008. Observa-se um frenesi na edificação de prédios comerciais e residenciais. O trânsito, apesar de lento em certas horas, não lembra em nada os terríveis congestionamentos das cidades do centro do Brasil ou de cidades da Índia em que já estivemos. Há um certo senso de responsabilidade dos motoristas chineses, pois são particularmente solícitos em meio ao caos desta grande cidade. Uma constatação importante também foi a substituição pela população das saudáveis bicicletas por silenciosas motocicletas elétricas as quais são subsidiadas pelo governo. Belo exemplo.
Não deixamos Pequim sem provar o inigualável “Pato Laqueado”, uma iguaria dos tempos dos imperadores que degustamos em um restaurante de mais de 100 anos, pelo qual Mao Tse Tung e Bill Clinton passaram alguns anos antes, conforme fotografias fixadas nas suas paredes. Provamos também, mas com um pouco de receio, os “ovos de 100 anos”. Almoçar e jantar com “os palitinhos” (‘k’uai-tsu’ em chinês) faz parte da aventura, afinal turista é turista. Nos últimos dias da viagem já estávamos craques em pinçar os bolinhos.
Xia’n é uma das mais antigas cidades do país e de grande importância histórica para a China. Desde o século 11 A.C. abrigou o comando de 13 dinastias, sendo o ponto de partida para a rota da seda. Com a descoberta em 1974 da tumba imperial de Qin Shihuang, o primeiro imperador chinês, e seu exército de 6 mil soldados de terracota, bem como a Torre do Sino e o Pagode do Ganso Selvagem tornaram-se bastante procurados por viajantes.
Shangai é a maior cidade da China e é também um importante centro industrial e financeiro. Dedicamos uma atenção especial ao Templo do Buda de Jade, aos Jardins de Yu, construído em 1559 e ao mercado adjacente onde iguarias e temperos misturam-se a belíssimos artesanatos e produtos eletrônicos, alguns de qualidade duvidosa. Durante a noite caminhando pela cidade, nos surpreendemos com a infinidade de luzes dos prédios e o colorido dos luminosos nas seguras ruas de Shangai.
Guilin foi uma gratificante surpresa. Uma pequena cidade situada em uma das regiões de maior beleza natural e charme da China. Percorremos os iluminados caminhos da Gruta da Flauta de Bambu, que serviu de abrigo para à população em tempos de guerra. Passeamos à noite no entorno dos lagos da cidade apreciando os mais velhos praticando a arte milenar do tai chi chuan. Em uma pitoresca viagem de barco percorremos o Rio Li. Ficamos maravilhados com as infinitas formações rochosas que inclusive estão estampadas na nota de 20 Yuans, com os pequenos povoados que sobrevivem do comércio de mercadorias a venda para turistas e com os barcos que percorrem os 83 km de Guilin até Yangshuo.
Guangzhou ou Cantão é um importante porto no Rio das Pérolas que, na Idade Média, já comerciava com Índia e Arábia. Visitamos o belíssimo templo de Chen Jia Ci e o auditório do Dr. Sun Yat-Sem. Esta cidade foi nosso ponto de partida para uma rápida, eficiente e confortável viagem de trem a Hong Kong.
Hong Kong é uma fascinante metrópole de 7 milhões de habitantes que combina a cultura oriental com a ocidental. De 1898 a 1997, Hong Kong foi um território administrado pelo Reino Unido e incluía a ilha de Hong Kong, pequenas ilhas adjacentes, a península de Kowloon e os Novos Territórios. Em 1997 a área retornou para a China como uma região administrativa especial. Necessitamos de um visto para permanência na cidade obtido na estação de trens. Os próprios chineses não têm permissão de ir e vir a Hong Kong sem um visto que é obtido de forma rígida para os cidadãos da China. Com a simplicidade dos Ferry Boats, barcos que operam desde a década de 60, visitamos as ilhas próximas a Kowloon. Um maravilhoso espetáculo de luz e som torna a noite de Hong Kong inesquecível. Com laseres dançando no alto dos prédios ao som de músicas, terminamos a noite com um jantar típico em um restaurante cantonês. Ainda em Hong Kong, no Pico Vitória, com uma visão espetacular da cidade, fomos abordados por um grupo de alunos de uma escola primária, cuja lição era entrevistar turistas estrangeiros visando familiarizarem-se com a língua inglesa. Uma forma interessante de desenvolver outro idioma, que deveríamos ter como exemplo. Também estivemos apreciando o Buda gigante de 24 metros na ilha de Lantau, sendo necessário um longo e fantástico passeio de teleférico para chegar à ilha.
Disponibilizamos 19 dias para esta bela jornada. O retorno ao Brasil fez-se com um misto de saudades do Chimarrão e do Churrasco, mas também das lembranças dos belos momentos que passamos nesta gigantesca nação.
Sabemos, por experiência no Brasil, que há muitas dificuldades a serem superadas em um extraordinário país emergente como a China. Exemplo são as crianças que estão se tornando obesas pela profusão de restaurantes fast-food, o que não reparamos nos adultos chineses. A poluição do ar já assombra as grandes cidades como Beijing e Shangai. As grandes construções, talvez necessárias para um novo e moderno país, avançam como um Tsunami sobre pequenos povoados e aldeias. As mudanças estão sendo muito rápidas.
Entretanto as cidades são limpas, o trânsito apesar de caótico em alguns momentos, devido a investimentos flui bem mais rápido do que aqui, o transporte coletivo funciona e é amplamente utilizado, a segurança nas ruas impressiona e é cativante ver grande parte da população, principalmente a melhor idade, praticar tai chi chuan bem cedo pela manhã nos parques. Além de tudo, há uma enorme hospitalidade dos chineses para com o povo do Pais do Futebol.
Perguntamos a inúmeros chineses se não estão perdendo um pouco de sua cultura com esta rápida evolução. A resposta foi unânime…….SIM. O que é de certa maneira uma pena.
Devido a isso tudo, só posso concluir dizendo: escolha um roteiro, faças suas malas, mantenha a mente aberta e descubra um pouco mais da fantástica diversidade de culturas e cenários desta pequena esfera azul em que vivemos.