A aproximação mútua entre uma pequena ilha caribenha e um gigante do hemisfério norte reacendeu as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba,  estremecidas desde o episódio conhecido como “Baia dos Porcos” no auge da Guerra Fria. Com este enlace, o setor de turismo também esta sendo muito beneficiado.

Descoberto por Cristovão Colombo em 1492, Cuba é um país insular localizado no mar do Caribe, com uma superfície de aproximadamente 110 mil km2 equivale a duas vezes o estado da Paraíba. O clima predominantemente tropical, uma população amigável e praias excelentes tornou-se um dos destinos turísticos muito procurados  nos últimos anos pelo baixo custo de hospedagem, alimentação e transporte (pelo menos por enquanto).

Minha jornada iniciou em abril de 2013 com Lisette minha companheira de aventuras. Um vôo de aproximadamente 9 horas pela Copa Arlines, com uma escala na cidade do Panamá, aterrissamos na ensolarada Havana. Ainda no aeroporto, fomos comunicados pelo Departamento de Imigração que Cuba normalmente não carimba os passaportes objetivando não comprometer uma futura entrada em países como Estados Unidos. Um visto em uma folha de papel separado do documento resolveria a permanência na ilha de Fidel. “OK, gracias!”

Outro detalhe importante é a moeda. Há duas correntes na ilha, o peso cubano e o peso conversível mais comumente chamado por “CUC”. Preços de diárias em hotéis, taxis, artesanatos e entrada para shows são sempre expresso em CUC. O peso cubano é a moeda na qual a maioria dos cubanos recebem seus salários e pagam suas contas. O melhor câmbio em Cuba é em euros. O dólar americano é sobretaxado em aproximadamente 10% – rescaldos da guerra fria. Dê preferência para pagamento em espécie em relação a cartões de crédito que também (dependendo do cartão) são taxados.

Durante as primeiras décadas do século XX, os interesses norte-americanos predominaram em Cuba, e os Estados Unidos exerceram grande influência sobre a ilha. Isto terminou em 1959, quando o ditador Fulgencio Batista foi deposto pelos revolucionários liderados por Fidel Castro.

Na cidade de Havana que é a capital do país, ainda podemos constatar as edificações onde cassinos, charutos e a boa vida  dominavam os ambientes. Atualmente com uma economia frágil, estas edificações estão degradando-se ao longo dos anos pois por parte de seus moradores não tem dinheiro suficiente para reformas, mas compõe uma espécie de “charme” único na cidade.

Além das construções, há muitos automóveis americanos das décadas de 50/60 rodando por lá. É inacreditável a criatividade do cubano em manter estes “dinossauros” funcionando. Muitas das peças são adaptadas de automóveis russos mais recentes. Um passeio em um Cadillac Fleetwood 60S pode ser considerado uma atração turística na cidade.

Havana é uma cidade fácil de se visitar. A maioria dos pontos turísticos estão concentrados no centro histórico junto a Plaza de Armas. Para os fãs de história, uma caminhada sem pressa pela Plaza de La Revolucion rodeada de prédios públicos e pode-se imaginar multidões ouvindo os intermináveis e inflamados discursos de  Fidel Castro.

O escritor americano Ernest Hemingway mudou-se para Havana em 1939 e sua primeira residência, o Hotel Ambos Mundos pode ser visitado. Já no restaurante-bar típico, La Bodeguita del Médio, que foi frequentado por personalidades como Pablo Neruda, Ernest Hemingway entre outros, experimentar um “mojito” e escrutinar os objetos curiosos, quadros, fotografias e assinatura de clientes famosos e desconhecidos é roteiro importante para o turista. Não deixe de experimentar o prato típico cubano, o “ropa vieja“.

Sentar a sombra de uma árvore na Plaza de Armas pode render algumas histórias. Uma simpática senhora de meia idade interpelou-nos perguntando se não necessitávamos de um guia. Mesmo com a resposta negativa, ficou conversando conosco por um par horas. No final perguntou-nos se tínhamos frascos de shampoo ou sabonetes do hotel pois os disponíveis nos mercados em Havana são caros e de qualidade inferior. Embora o futuro pareça incerto, a comunidade continua tocando a vida com relativo bom humor.

Por falar em mercados, um passeio em um mercado próximo ao hotel lembrou-me uma mercearia de um tio querido do interior do Rio Grande do Sul que estava prestes a fechar as portas…. praticamente vazia. O único refrigerante a venda por lá foi o “genérico” cubano da Coca-Cola de nome Tukola…..

Para os adoradores de charutos é o paraíso. Uma visita a fábrica da Cohiba ou Romeu & Julieta e pronto, sucumbimos a uma ou duas caixas de havanas.

Já para quem gosta de rum, o Havana Club pode ser considerado uma perdição. O estabelecimento conta com um museu sobre a marca fundada em 1878, um bar e uma loja para compras.

O ponto alto da cidade nos fins de semana é a orla chamada de Malecón.  As famílias se reúnem neste imenso calçadão percorrendo a pé seu caminho de baixo para cima.

Para percorrer os pontos turísticos de Havana, uma opção é tomar um HabanaBusTour por 5,00 CUC. Este ônibus tem as mesmas características “hop-on hop-off” dos Citysightseeing  espalhados pela Europa.

Um passeio pelas ruas próximas ao Capitólio Nacional com seus bares e prédios antigos levará o turista a perceber que Havana necessita de uma remodelação. Apesar da visão de casas decadentes e carros obsoletos, é seguro andar e as pessoas são corteses com turistas brasileiros. Eles adoram nossas novelas. Lembro que a TV cubana estava com “O Imigrante” na sua programação.

Não deixe de passear pela Calle Obispo e apreciar um dos famosos sorvetes de Havana ao som de um bolero, uma rumba ou salsa cubana.

Se estiver cansado, retorne ao hotel em um Coco-taxi. Uma motocicleta carenada ao melhor estilo dos “tuk-tuk” indianos.

Após 3 dias bem aproveitados em Havana, nos dirigimos a Península de Varadero. Uma viagem rodoviária de duas horas com um “pipi-stop” em Matanzas.

A Península de Varadero é um ambiente construído especialmente para o turismo. Além de uma cidadezinha de mesmo nome, uma dezena de “Resorts All incluse” se aglomeram neste longo mas estreito pedaço de terra para o deleite dos viajantes. Os cubanos não tem permissão de veranear na península, uma lástima.

Nos hospedamos no Meliá Peninsula Varadero por 4 dias. As acomodações são excelentes, há 5 restaurantes temáticos a escolher para refeições, um complexo de piscinas, um teatro coberto com shows todas as noites, vários spas, praias fechadas, esportes aquáticos e se você quiser, é só estalar os dedos e uma cuba libre ou mojito é entregue na beira da praia.

Esta península foi considerada uma colônia de férias para os poderosos da Rússia nas décadas de 60 a 80. Atualmente ainda é bastante procurada por turistas soviéticos para descanso do inverno siberiano. Nota-se ao longe um deles. Tem a pele branca ou vermelha após 2 dias e geralmente andam em “bando” sempre com uma garrafa térmica para as bebidas.

Aproveitamos as facilidades do local durante os 4 dias.

Um passeio com catamarã – não incluído na reserva – e a espetacular praia de Caio Blanco nos aguardava. Areias brancas e água límpidas e mornas. Em um restaurante local, comemos lagostas ao som de música caribenha. No meio da tarde, fomos conhecer um berçário de golfinhos no meio do mar. Criaturas dóceis e de incrível habilidade na água. Retornamos ao final do dia a península com muita salsa, mojito e cuba libre.

No oitavo dia, nos despedimos de Varadero e de Cuba. Um vôo de retorno tranqüilo e com a pele na cor bronze diferente dos soviéticos.