Se você tem uma disponibilidade maior de tempo no Egito e tem sede em conhecer lugares pouco visitados por turistas convencionais não deixe de fora uma viagem superinteressante a península do Sinai. Partindo do Cairo na direção oeste, deixando para trás as escaldantes areias do Sahara, o cenário muda de uma forma rápida e inesperada.

Da mesma maneira que o leste do Egito, o oeste também é pouco habitado. Uma paisagem montanhosa, onde as temperaturas podem chegar próximas a zero com neve em alguns períodos do ano, tornando o centro desta região uma verdadeira surpresa para a maioria dos viajantes.

O ponto de partida sempre é a cidade do Cairo. Tomando-se a rodovia nº 50 de nome Suez Road, após uma hora e meia chega-se ao ponto de travessia do Canal de Suez. Uma parada técnica de “pipi-stop” e café é importante antes de cruzar o túnel sob o canal, que é fortemente guarnecido pelo exército egípcio.

Após cruzar o canal, seguimos costeando o Golfo de Suez em direção ao Mar Vermelho. É uma rodovia pavimentada margeando o golfo com inúmeros condomínios utilizado por veranistas no verão, muitos deles da capital Cairo. A quantidade de navios mercantes singrando as águas do golfo em direção ao canal impressiona.

Aqui também é possível observar a importância estratégica do Sinai. Uma infinidade de plataformas de prospecção de petróleo acompanham o viajante durante um bom tempo. E, em outra parada para café na estrada, tive a surpresa de encontrar a Mona Lisa sem aquela infinidade de pessoas se acotovelando no Louvre.

A jornada continua pela estrada agora na direção oeste, estamos entrando no interior do Sinai. Uma região pedregosa, montanhosa, que impressiona pela solidão de quilômetros e quilômetros até chegar a pequena Sta. Catherine. Os postos de controle do exército também são uma constante por aqui, com checagem de passaportes e verificações na Van que nos transportava.

Saint Catherine – Esta pequena cidade no sopé das montanhas do Monte Sinai está localizada a 1600m do nível do mar. Os habitantes da cidade são em sua maioria beduínos de Jebeliya (povos das montanhas), que foram trazidos pelo imperador Justiniano no século VI para servir e proteger o Mosteiro de Sta. Catherine, tombado pela UNESCO. É uma cidade modesta como seu povo, sendo sua atividade principal voltada a peregrinação de devotos e turistas que visitam o monastério e o santuário.

Sua principal atração é o Mosteiro de Sta. Catherine. Construído entre 548 e 565, é um dos monastérios cristãos ortodoxo mais antigos do mundo e também possui a mais antiga biblioteca de operação contínua no mundo. No seu interior encontra-se o arbusto ardente visto por Moisés na aparição de Deus, e acima do mosteiro, no monte Sinai, Moisés recebeu os 10 mandamentos. Não há evidências destes fatos históricos neste lugar, mas é um lugar sagrado tanto para cristãos como para judeus e islamitas a séculos. É um dos poucos lugares onde se encontra uma mesquita lado a lado com uma igreja cristã. Uma visita pela manhã neste lugar é possível observar centenas de peregrinos retornando do Monte Sinai. A principal igreja do mosteiro é a Basílica da Transfiguração, construída em granito.

Dicas:

• Um pernoite na cidade é necessário pois a cidade dista 440km do Cairo e somente por estrada. Nosso Hotel em Sta. Catherine foi o Catherine Plaza Hotel. Ótima visão das montanhas do Sinai, quartos simples, mas de certa forma aconchegantes e um café da manhã espartano, mas bem elaborado. Nosso guia no Egito Mohamed Moses  providenciou as acomodações;
• Tenha em mente que esta região é de montanha diferente das regiões áridas do Sahara, portanto leve um abrigo para noite pois esfria muito e sapatos confortáveis para caminhada;
• Uma atividade diferenciada é assistir o nascer do sol nas montanhas do Sinai. Acorda-se na madrugada e após uma caminhada por trilhas acompanhado por beduínos vislumbra-se o nascer do sol. Também é possível ascender esta trilha montado em dromedários, mas leve com você uma lanterna e abrigo para o frio. Estes itens você terá que pagar a parte se não estiver com você. No retorno um café quente o espera no hotel.

Seguindo a estrada no dia seguinte após a visita ao mosteiro, viajando pelo lado oeste da península do Sinal chegamos a paradisíaca Sharm El Sheikh.

Sharm El Sheikh: A cidade costeira ao Mar Vermelho foi capturada por Israel após a Guerra dos Seis Dias e atualmente passou a soberania egípcia depois do tratado de paz de 1982. Sua principal característica é ser um balneário paradisíaco que atraem mergulhadores e turistas o ano todo, principalmente europeus. Águas temperadas e arrecifes de coral esplêndidos trouxeram a esta cidade resorts de primeira classe e vida noturna requintada, diferente do restante do país.

Nossa hospedagem por três noites no balneário foi no espetacular resort Sheraton Sharm. Um serviço de hotelaria de primeira, quartos amplos todos com frente para o mar, uma praia particular completa com quiosques e bares. O restaurante e o Spa também compõem a boa estrutura do hotel.

Em outubro de 2015, um avião da cia. aérea russa Metrojet que saiu de Sharm El Sheikh com destino a São Petesburgo, caiu. As investigações confirmaram um ataque terrorista. Somado a época que estive no Egito que é considerado inverno (dezembro) a cidade bem como os hotéis estavam com pouco número de turistas. Uma ótima ocasião para aproveitar os baixos preços e ter uma praia só para você. Me senti super seguro aqui e, como já havia mencionado em posts anteriores, o trajeto mais perigoso que fiz nesta viagem foi entre minha casa e o aeroporto.

Dicas:

• Um tour de um dia que não se pode deixar de fazer é mergulhar nos arrecifes de coral do Mar Vermelho. Uma van leva você do hotel até os barcos pela manhã, você pode optar por mergulhar com snorkel ou aventurar-se com cilindro. O trajeto de barco leva em torno de uma hora e meia até o local de mergulho. Cafés e chás fazem parte do pacote bem como um almoço a bordo. Se você quiser, pode levar um registro fotográfico e filmagem no seu mergulho. Pechinche, pois é usual no Egito. O valor do passeio no barco incluindo o mergulho com cilindro custa U$ 35,00, o valor do registro fotográfico do seu mergulho sai por U$ 10,00.
• Aproveite e passe uma tarde no Spa do hotel. Um banho turco e uma massagem egípcia relaxante após um dia na praia entre sol e bebidas faz um bem. O valor para estes serviços custa U$ 170,00.
• A noite dê uma fugida ao Soho Square. Lá é que tudo acontece. É um local ótimo para passear, muito seguro, tem várias lojinhas, bares e restaurantes. Uma fonte e shows de música animam bem o lugar.

Retornei ao Cairo via aérea pela ótima Nile Air. Mas a segurança no aeroporto de Sherm El Sheikh beira a paranóia. Revista nas malas, retirar baterias das câmeras e colocá-las nas bagagens despachadas, obrigatoriedade de filme na bagagem despachada, controle de passaportes… Uma chatice, mas em prol da segurança vale.

No próximo post vou levar vocês para o Delta do Nilo. Vamos percorrer as pirâmides da planície de Gizé e Sakara. Vamos a Alexandria e a primeira cidade estado do Egito, Menfis. E como não poderia deixar de fora, a capital Cairo. Acompanhem.